O Leite Pode Azedar a Vida do Pequeno Produtor.
A frase que Euclides da Cunha tornou famosa em seu livro “Os Sertões” (O sertanejo é, antes de tudo, um forte) é o resultado de uma profunda análise psicológica do nordestino, principalmente do nordestino sertanejo, quer dizer, daquele que arriscou tudo se embrenhando pelas caatingas, em ermos longínquos e inóspitos, para lá construir o seu mundo, sua vida, sua família e fazer de si mesmo este modelo vivo de fortaleza e austeridade. Formado assim na luta, nas dificuldades ingentes das intempéries e do sofrimento humano, o sertanejo nordestino tem uma têmpera forte, um caráter firme e decidido, mas ao tempo com uma alma dócil, cheia de bondade, amorosa, cálida para com os amigos e aguerrida para com os adversários de si e dos seus.
De Juraci Josino Cavalcante. Em Reminiscências de "seu" Batista.
Com a crise de comercialização do leite, nos parece que a velha, porém atual, expressão de Euclides da Cunha, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”, vai terminar sendo revogada. As coisas como caminham, no entra e sai governo no Rio Grande do Norte, sem se encontrar uma saída para o pequeno produtor rural, que tem no leite sua principal atividade de sobrevivência, a tendência é pelo seu fim.
É sempre assim: o governo anterior deixa de efetuar -e até empenhar- o pagamento de parte da produção do leite que já foi entregue. O governo que assume, numa atitude de incentivo, propõe saldar a ultima quinzena de dezembro. E, o restante, através de um parcelamento de longos doze meses para saldar as parcelas anteriores, sem juros, sem correção monetária, sem nada. É o duodécimo limpo e seco. E, como pagar a ração que já foi consumida? Como adquirir mais ração no tempo atual, quase sempre tem que pagar à vista e, quando não nessa modalidade de pagamento, se paga com um prazo máximo de oito dias? O pequeno produtor tem capital de giro?
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