terça-feira, 24 de julho de 2012

Catarinense Além Da Origem.


Escritores Lembram a Importância De Iaponan Soares Para a Literatura De Santa Catarina.
             Iaponan Soares não nasceu em Santa Catarina. Mas era "mais catarinense do que muitos catarinenses". A definição de Péricles Prade, presidente da Academia Catarinense de Letras (ACL), não poderia ser mais precisa no momento em que o Estado se despede de um estudioso de sua história e literatura.
           Iaponan, 75 anos, foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério do Itacorubi, em Florianópolis. Ele morreu na noite de quarta, vítima de falência múltipla de órgãos causada por complicações do Mal de Alzheimer — doença que enfrentava havia uma década. Segundo o historiador Jali Meirinho, Iaponan era um ativista do movimento modernista no final dos anos 1950 e tornou-se membro da Academia Catarinense de Letras em 1968.
            — Ele escreveu sobre Santo Antônio de Lisboa, sobre Biguaçu e Estreito. Era um engajado na nossa história — comenta Jali.
            Em especial, sua paixão pela obra de Cruz e Sousa chama atenção, tendo se envolvido diretamente nas iniciativas para transferir os restos mortais do poeta do Rio de janeiro para Santa Catarina. Um de seus livros de maior destaque foi Ao Redor de Cruz e Sousa (1998).
           — Era um dos maiores conhecedores da obra de Cruz e Sousa. O Iaponan deixa um legado riquíssimo de estudos, antologias e livros sobre a história e a literatura catarinense — afirma o escritor Mario Pereira, colunista do Diário Catarinense.
           Mario estava na equipe de editores do DC, em 1986, quando o jornal foi lançado. Lembra que Iaponan fez parte da primeira equipe de colaboradores do DC:
          — Eu editava os artigos dele, então, falávamos muito. Ele sempre foi muito bem-humorado, aquela pessoa de bem com a vida. Era ótimo lidar com ele.
           Nascido na pequena cidade de São Vicente, no Rio Grande do Norte (RN), Iaponan chegou a Santa Catarina ainda jovem. O irmão dele, Iaperi Soares de Araujo, também escritor, crítico de artes e colunista em RN, lembra que Iaponan começou a se interessar pelos estudos com a mãe, que era professora. Aos 14 anos, quando morava em Natal, tinha o hábito de frequentar bibliotecas e começou a colecionar livros. Entre as preciosidades, adquiriu um livro corrigido à mão pelo próprio Machado de Assis.
           Segundo Iaperi, Iaponan mudou-se para Santa Catarina por conta do trabalho. Era membro dos quadros técnicos do antigo DNER e foi transferido para o Paraná e depois para Santa Catarina, quando no governo de Juscelino Kubitschek se implantava a BR-101.
            Depois Iaponan se enveredou de vez para a arte. Em sua casa no Bairro Estreito, organizou uma biblioteca com cerca de 30 mil livros. Sobre seu lado escritor, o amigo Péricles comenta:
            — Particularmente, eu também vejo o Iaponan como um contista de primeira plana. Seus textos primavam pela literalidade. Foi visceralmente um escritor.

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